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quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Contribuições Teóricas para o Ensino na EJA

Com o objetivo de desenvolver estratégias de aprendizagem para uma turma da Totalidade 3 da modalide Educação de Jovens e Adultos (EJA) e revisitando os aportes teóricos durante o curso de Pedagogia, apresento os autores que fizeram grande diferença em minha prática docente e em meu trabalho como professora da EJA. 
Com diferentes perspectivas alfabetizantes os autores abaixo encontram convergência quando se trata do ensino em sala de aula com jovens e adultos.

Diferentes Perspectivas Alfabetizadoras
Foco/Autor
Isabel Solé (1998)
Emília Ferreiro (1990, 1999)
Paulo Freire (1970, 1987, 1988)
Leitura
A leitura decorre a partir dos esquemas mentais que fornecem pistas que geram estratégias para o leitor desenvolver os estágios que se seguirão antes, durante e depois do ato de ler.
A leitura acontece num processo concomitante à escrita, visto que o estudante já possui uma hipótese do código escrito, isto é, há uma leitura interna das palavras que fazem parte da vida do aluno.
A leitura é parte da problematização e tomada de consciência do uso das palavras que fazem parte da realidade do educando. Nesta perspectiva, a leitura também é amplamente observada em seu aspecto oral (leitura de mundo).
Escrita
A escrita se dá num processo de intermediação ao código, passando pela decodificação (leitura), reconhecimento e uso do código alfabético (escrita), relacionado à consciência fonológica, de forma a atingir a compreensão do que é lido.
A escrita desenvolve-se por meio da psicogênese e compreensão que o estudante faz acerca das diferenciações e representações mentais que elabora em relação ao código.
A esrita não está dissociada da leitura pois não foca no método de análise de vogais e depois consoantes e, em seguida, às famílias silábicas, mas exatamente no caminho contrário, ou seja, a partir das palavras geradoras é que se exploram as famílias silábicas e as letras.
Numeramento
O numeramento nessa perspectiva, ocorre em um processo similar à leitura e à escrita, no entanto com o código numérico.
Geralmente há um entendimento prévio nas diferenciações e respresentações, classificando letras e números.
A educação não bancária de Freire também leva à alfabetização para o numeramento, pois, a partir das palavras geradoras, o número passa a ser um código problematizador da vida do aluno, podendo ser trabalhado da mesma maneira que a leitura e a escrita.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Palavras Geradoras

Estou chegando na reta final do curso de Pedagogia, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e, não poderia fazer qualquer fechamento sem trazer à discussão aquele que me acompanhou durante todo o curso e, possivelmente acompanhará por toda a vida docente - Paulo Freire!

Ao fazer a releitura da obra de  Freire pude trazer à prática em sala de aula, com meu estágio na EJA, aquilo que Freire chamou de "palavras geradoras", adotadas para dar início aquilo que na Pedagogia moderna compõe os Projetos de Aprendizagem, isto é, só a partir da escuta aberta, feita por meio do diálogo profundo entre professor e aluno é que se pode chegar nesses pontos-chave do aprendizado do estudante.

Freire refuta a ideia de abordar o processo de aprendizagem a partir do ba - be - bi - bo - bu e entende que eles só fazem sentido (como famílias silábicas) se trabalhados a partir das palavras geradoras, ou seja, as palavras que fazem sentido para o mundo do educando e o meio em que vive.

E foi por meio desse pressuposto freiriano que embasei minha práxis junto aos alunos da EJA. Primeiro porque trata-se de um público com uma ampla bagagem de mundo, o qual chega no ensino básico trazendo conhecimentos, muitas vezes, desconsiderados, mas que estiveram e fazem parte da vida do educando, seja de seu universo cultural, social ou de trabalho. Segundo, porque é a partir do diálogo com o aluno e ouvindo aquilo que faz parte de seu mundo que é possível a qualquer educador estabelecer um vínculo com seu estudante.

Por fim, gostaria de realçar o quanto trazer as palavras geradoras para o encontro das estratégias pdagógicas que desenvolvi junto à turma da EJA-T3 foram importantes para proporcionar aos meus alunos uma melhor aquisição nos processos de leitura,escrita e numeramento. 


domingo, 1 de dezembro de 2019

Percurso Histórico da EJA

Abaixo apresento um quadro histórico da EJA no Brasil. Este quadro foi elaborado para meus estudos de Conclusão de Curso em Pedagogia, e considero pertinente a todo educador que pretende analisar a EJA sob a perspectiva histórica.
Quadro 1 – Quadro histórico da EJA no Brasil
ANO
PERÍODO HISTÓRICO
AÇÕES
MARCOS LEGAIS
1549
Brssil Colônia - Período Jesuítico
Educação confessional e evangelizadora.
Embora fosse dirigida às crianças, há registros (poucos) dirigidos aos adultos.
1760
Brasil Colônia - Período Pombalino
Não há registros de educação para adultos.
A educação passa aser controlada pelo Estado.
1808
Brasil Colônia – Chegada da Côrte no Brasil
Panorama positivo para a educação no país, pois começa a se institucionalizar.
A educação é direito apenas da elite.
1824
Império
Aspirava um modelo de educação que nunca existiu.
Criação da Constituição Imperial.
1827
Império
Adoção do método mútuo, para englobar várias pessoas no sistema de ensino.
Dom Pedro cria lei que altera modelo de ensino vigente.
1881
Império
Reforço da ideia do analfabeto como incapaz.
Lei Saraiva impede que analfabetos votem.
1885
Império
Regime de escolas de educação primária em Pernambuco.
Destinada a receber alunos maiores de 15 anos.
1890
República
Ações isoladas entre intelectuais e elite para diminuir o analfabetismo.

Censo publica o índice de 80% de analfabetismo entre a população da época.
1912
República
Método de Desanalfabetização em 7 lições de Abner Brito.
Surgem as “ligas” (Liga Brasileira contra o Analfabetismo) – Carneiro Leão crítica as ações pois considera que poderiam aumentar a anarquia social.
1921
República
Criação de escolas para adultos, com duração de um ano.
Conferência Interestadual no Rio de Janeiro.
1925
República
Escolas de ensino Primário para adultos.
Decreto 16782/A – Estabelece a criação de escolas noturnas de ensino primário para adultos.
1930
República – Início da Era Vargas
Uso da Leitura de Cordel e Carta do ABC.
Paschoal Lemes inicia as primeiras tentaivas oficiais de craição do ensino supletivo.
1936
República
Ensino Gratuito integral.
Plano Nacional de Educação, prevê a gratuidade do Ensino Integral, estendida aos adultos.
1945
República
Oficialidade do ensino de adultos.
Decreto nº 19513 de 25 de agosto de 1945.
1946
República
Material pedagógico proposto ao ensino e à alfabetização.
1ª Lei orgânica do Ensino Primário.
1950
República
Paulo Freire e a Educação Popular.

1951
República
Educação Agrícola
Campanha Nacional de Educação Rural.
1958
República
Movimentos de Educação de Base.
Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo.
1961
República
Movimentos de Educação de Base.
Lei 4024/61 – A educação é direito de todos.
1963
República
Paulo Freire e os Movimentos populares de Recife.
Plano Nacional de Alfabetização, interrompido após o golpe militar em 64.
1964
Ditadura Militar
Perseguição aos movimentos populares;
O adulto analfabeto é ensinado a desenhar o próprio nome.
O Brasil adota um modelo de alfabetização evangélica, copiado dos Estados Unidos.
1966
Ditadura Militar
Utilização do Fundo Nacional Primário e Médio para a alfabetização de crianças a partir de 10 anos.
Criação do Mobral.
Decreto-Lei 57.895 modifica a lei de distribuição do fundo nacional para a educação.
1971
Ditadura Militar
Legalização do Supletivo
Lei 5692/71 de 11 de agosto de 1971.
1985
Início da República Nova
Substitui o a Mobral pela Fundação Educar.
Decreto 91980.
1986
República Nova

Constituição prevê a modalidade de educação para jovens e adultos.
1990
República Nova
Universalização do ensino fundamental.

1996
República Nova
Criação do PAS.
Nova LDB Lei 9394 – Artigo 37.
1998
República Nova
Plano Nacional de Educação – EJA
Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária.
Projeto de Lei 4173/98
2000
República Nova
Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino da EJA.
Parecer 11/2000 de Carlos Jamil Cury.
2001
República Nova
Plano Nacional da Educação.
Veto aos recursos orçamentários da EJA
2003
República Nova
Brasil Alfabetizado;
Ênfase no voluntariado.

2004
República Nova
Brasil Alfabetizado;
Conexões de Saberes;
Escola que protege;
Quilombolas.
Criação da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Cidadania (SECAD).
2007
República Nova
Inclui as matrículas da EJA na previsão dos recursos.
Fundef passa a ser Fundeb e engloba todo a educação básica.
Lei nº 11.494/07
2010
República Nova
Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos (PNLDEJA).

2011
República Nova
Interrupção das verbas destinadas ao Proeja(criado em 2005) que agora destinam-se ao Pronatec.
Lei nº 12.513/11
2016
República Nova -Impeachment
Cortes na Educação.
Assume o vice-presidente Temer.
2018
República Nova - Período pós-democrático
Congelamento de recursos;
Educação domiciliar;
Projeto Escola sem Partido (sem formalização).
Desgaste ministerial no MEC e sem propostas concretas para a educação.
Elaboração - Alessandra Figueiró Thornton (2019)

Desenvolvendo o TCC

Se há algo que realmente representa uma dificuldade a quase todos os estudantes ao término de uma graduação, certamente, é a escrita de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). 
Desde o início até o final as dificuldades estão presentes, e é preciso muita capacidade de síntese e discernimento para trazer à escrita, tudo que foi aprendido durante os muitos anos de curso, acrescidos dos  autores e pesquisas que vão compor o atual estudo. 
Estabelecer esse diálogo entre a teoria e a prática não é uma tarefa simples, mas também não é impossível, pois está tudo lá, basta colocar os fatos em ordem. 
Para isso, é importante saber, em primeiro lugar, aquilo que se quer pesquisar, ou seja, o TEMA de pesquisa. Em seguida, elaborar os questionamentos que causaram essas indagações e, por fim, traçar que tipo de pesquisa será desenvolvida.

Em relação à Pedagogia, curso que agora concluo, meu TCC discorre sobre um relato de experiência, que tem como base, o Estágio Curricular Obrigatório (ECO). 
Assim, é de suma importância que, durante o ECO, o aluno tenha todos os registros, observações e pareceres que ajudarão a compor a escrita sobre a prática docente.

Além disso, revisitar autores estudados durante o curso pode ajudar bastante na hora de dialogar e fazer as discussões que conversarão entre a prática e a teoria.

Para a área da educação, especialemente nos campos relacionados à EJA ou à educação popular, é imprescindível a releitura de autores como Paulo Freire, Vygotsky e Piaget.  Às vezes, incansavelmente estudados, sempre têm algo a contribuir na elaboração do pensamento crítica e nas teorias que compõem o vasto campo da Educação.

domingo, 24 de novembro de 2019

Final de Estágio

A última sexta-feira marcou meu último dia no Estágio Obrigatório da Pedagogia (PEAD). Agora é seguir para as finalizações referentes ao término do curso. Foram cinco anos de aprendizado e grandes desafios. Foi na Pedagogia que precisei reler e entender a literatura de Paulo Freire e seus princípios político-pedagógicos para o campo da Educação. Foi lá também que conheci autores novos como Baumann e pude aprofundar meus conhecimentos sobre Piaget e os estágios de aprendizagem.

No entanto, tudo isso fez muito mais sentido em minha prática de estágio junto à EJA. Foi com o grupo de audltos em processo de alfabetiação que pude, não só rever todos os autores e suas teorias, bem como questionar tantas outras coisas relativas ao ensino para adultos no Brasil. 
É uma engrenagem bastante complexa, se pegarmos o fio de toda a política pública que envolve a EJA e seus e pressupostos educacionais. 

Saio dessa prática docente, certamente, fortalecida como educadora, mas carente de muitas respostas, visto que a Educação de Jovens e Adultos pouco interessa aos governantes e, até à própria sociedade, que desconsidera essa lado do Brasil. Esse Brasil que não escreve, que não lê e que não existe!
Por isso, fazer parte do ensino da EJA e proporcionar aos estudantes uma forma de ler as palavras, sem desconsiderar sua rica, já existente, leitura do mundo é uma tarefa hercúlea, uma tarefa de resitência e muito amor, que tem como propósito máximo ações individuais de professores e alguns grupos escolares isolados.

Meu sonho como professora é que, algum dia, nesse país, a EJA possa ter um pouco mais de importância para o cenário educacional, pois o aluno da EJA não é só passado, é presente e futuro de uma nação. 

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Rogério Andrade Barbosa e a EJA

Ontem, no Memorial do Rio Grande do Sul, o autor Rogério Andrade Barbosa palestrou para um grupo de alunos da EJA, da rede municipal de Porto Alegre. 

O autor falou de suas experiências  de viver e lecionar na África e a cultura africana, que é o grande foco de seus livros, escritos para o público infanto-juvenil, mas que também são próprios para os alunos da EJA, visto que falam de lendas e histórias do folclore africano, tão semelhantes as nossas histórias e cultura.

Barbosa, ao descrever sua trajetória de vida e o início da carreira como escritor, desvenda um carinho e respeito enorme pelo aprendizado adquirido todos esses anos no continente africano e sua convivência com os diferentes povos e culturas da África, suas diferentes línguas, as danças típicas, as lendas e tudo que compõem as personagens que fazem parte de seu universo lierário.


domingo, 3 de novembro de 2019

A IMPORTÂNCIA DO CURRÍCULO DE TRABLHO PARA OS ALUNOS DA EJA


As séries iniciais da EJA enfrentam um grande desafio: a apresentação deles para o mercado de trabalho. Isso nem sempre é tão simples quanto parece e, apesar de a maioria dos estudantes que frequentam esta modalidade de ensino encontrarem-se atuantes como trabalhadores, a maior parte não tem empregos fixos ou perspectivas em relação a crescimento dentro de seus ambientes de trabalho.

Diante disso, é muito importante que o professor da EJA esteja atento a seus alunos no sentido de orientá-los quanto ao próprio currículo de trabalho, além de buscar ajudá-los a desenvolver e a descobrir um perfil que seja compatível para a empregabilidade dessas pessoas, visto que, em geral, é comum que os estudantes da EJA tenham muitas habilidades manuais e braçais, pois seus trabalhos exigem mais esse tipo de tarefa e característica pessoal.  

Uma sugestão simples é que os professores incluam a confecção de um currículo adaptado a sua própria classe, ou seja, conforma as habilidades e experiências de trabalho trazidas pelos próprios alunos.
Há modelos simples na internet, mas o ideal é que o próprio professor, juntamente com os estudantes crie um modelo adaptado a realidade daqueles adultos que dispõem em classe. 

Certamente trará outras formas e perspectivas para os alunos inclusive apresentarem-se quanto as suas capacidades e prováveis trabalhos a que desejem se submeter.


domingo, 27 de outubro de 2019

EJA - Uma Ação Política do Ensinar

Essas cinco semanas de estágio na EJA têm sido de muitas provações, mas acima de tudo de muitos aprendizados, pois, é nítido que a alfabetização de adultos perpassa a pura e simples questão pedagógica do conhecimento das letras e números; é sim, antes de tudo, uma forma subversiva de resistir ao sistema.De enfrentar, o antes impensável, mundo do saber. Não o saber adqueirido, empírico, de mundo, mas o saber que se encontra nos livros.

É bom lembrar que a maior parte dos estudantes que hoje frequentam esta modalidade de ensino - para adultos - não estão naquela situação somente por que querem, mas pelo sentido de dever, de cidadania, de vir a ser no mundo. Há claramente nos olhos de cada um a fome de aprender. O desejo de dominar as letras e com elas uma outra forma de ver o próprio mundo. 

Essencialmente, essa necessidade intrínseca de todo o ser humano, a de saber, se manifesta nesses estudantes, de maneira contundente. Não sem dificuldades, é claro, mas com paixão.

É, portanto, essencial, que antes de ser o educador alfabetizador, o professor também consiga enxergar esse universo do estudante da EJA, com as lentes da gente trabalhadora que se desloca a cada dia, muitas vezes, com o cansaço estampado nos olhos, pelo longo dia de trabalho, em sua maioria, trabalhadores braçais.

Desenvolver esse olhar empático, é a única forma de também olhar sob as lentes de quem até hoje leu e viveu sem as letras, mas que agora emerge, com a necessidade de nascer de novo,relendo a própria vida.